Sociedade Artificial

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Diferente das mudanças naturais nos relacionamentos afetivos que podem ser ou não impactados pela aproximação das pessoas à novas tecnologias, a “Sociedade Artificial” tem outro contexto no viés tecnológico. A ideia aqui é possibilitar, a predição do futuro. Em várias áreas que impactam a sociedade. A partir de simulações com agentes computacionais. Afinal, prever o futuro pode fazer parte, sim, da ciência. Mas antes precisamos contextualizar a Inteligência Artificial.

Em meio a era cognitiva, com evoluções fortes da tecnologia, a Inteligência Artificial é um expoente. Com ela, somando-se a evolução do conhecimento sobre o comportamento humano e as taxas de processamento na computação crescendo exponencialmente, passa a ser possível a identificação clara de situações que acontecerão no futuro, mesmo não previstas.

Já há algum tempo cientistas estão criando a “Sociedade Artificial”. Um conceito que nasceu antes mesmo do boom tecnológico, em laboratórios de química e física, na década de 60, onde o principal problema da sociologia clássica era identificar como indivíduos de um sistema influenciam e são influenciados pelo nível macrossocial. A aplicação baseada em “agentes” como modelo social surgiu com o cientista da computação Craig Reynolds, ao tentar modelar agentes biológicos vivos (conhecido como “vida artificial”) e depois aplicar à análise a sistemas sociais. Assim nasceu a “Sociedade Artificial”, trazendo um novo método para a análise sociológica na forma de sociologia computacional. Tecnicamente, um “agente” é uma entidade computacional autônoma, programada para “decidir” suas próprias ações. Por isso a Sociedade Artificial é um sistema complexo, desenvolvido com base na sociologia computacional. Usando diversas tecnologias como algoritmos evolutivos (EA) e genéticos (GA). Esse novo modelo matemático apoia cientistas no desenvolvimento de simulações, para buscar evitar o que for prejudicial à humanidade. Criando cenários futuros e usando o autoconhecimento sobre o comportamento humano, cientistas estão criando essa nova “Sociedade”, onde a base é a sociologia computacional.

Entre vários estudos experimentais, se destaca uma Universidade Sueca que desenvolveu um processo para simular a chegada em uma cidade de porte pequeno na Europa Ocidental de 20.000 refugiados da guerra Síria. E aí começamos a entender o quão interessante e útil pode ser essa aplicação. Nesse caso, o objetivo é identificar qual o nível de integração na sociedade. Haveria capacidades? Como se comportariam os sistemas e políticas envolvidas? Seria pacífico, considerando as características históricas e sociais de ambos os lados? De fato, de posse dessas informações seria possível então desenvolver uma comunicação efetiva para informar corretamente a sociedade e preparar a sua infraestrutura para um acolhimento correto, além de mapear com antecedência as oportunidades sociais para a correta distribuição por outras cidades e mesmo países, considerando costumes, hábitos e a realidade dos governos nesses locais.

Ou seja, mais uma frente inovadora que a tecnologia nos permite. Mas, como tudo, precisamos avaliar prós e contras com a mesma intensidade. Mesmo com um propósito tão importante, trabalhar informações a partir de características humanas é muito delicado e também complexo. Necessita diretrizes éticas, como as que estão sendo desenvolvidas pela Sociedade Internacional de Modelagem e Simulação. Prevendo por exemplo, a proibição de cientistas, doutores e pós-doutores em trabalhar com criminosos e grupos de motivação política. Com possibilidades como esta, grupos políticos poderiam se projetar tentando prever votos, por exemplo. O que permitiria ações de manipulação, e o consequente enfraquecimento da democracia. Problemático, como o caso recente da Cambridge Analytica, criada para participar da política do Estados Unidos, e que supostamente usou análise de dados para desenvolver uma comunicação estratégica para influenciar no processo eleitoral.

Mas, isso resolvido, vamos voltar ao lado bom, maravilhoso, que a tecnologia nos traz. Imagine poder prever com exatidão fenômenos negativos na natureza, mudanças climáticas atípicas e até possíveis surtos de doenças (um tema atual e que nos é tão caro), e assim tentar impedir ou, ao menos, mitigar as consequências. A Inteligência Artificial é a beleza por traz disso tudo. Vai além da mera extinção de funções automáticas ou mesmo das inúmeras vantagens que traz nas diversas verticais do mercado, como temos mostrado em palestras temáticas em todo o Brasil. Países líderes nessa tecnologia como EUA, China, Canadá e Israel têm agendas de longo prazo para o desenvolvimento da área, além de investimentos altos nas maiores nações do mundo para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. Tão importante que os Emirados Árabes Unidos já têm criado o primeiro Ministério da Inteligência Artificial.

De fato, ninguém sabe ao certo a extensão dos efeitos que o uso da Inteligência Artificial trará a todos nós. Mas uma coisa é certa: com a Sociedade Artificial, agora, é possível prever o futuro. A Sociedade real agradece!

Fernando Lemos é Palestrante e Estrategista em Tecnologia

Artigo desenvolvido exclusivamente para a Palestrarte

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